Seminário sobre Saúde do Trabalhador refletiu sobre as causas que levam ao adoecimento no mundo do trabalho e destacou a necessidade de respostas coletivas e políticas para a questão

Em 2022, uma pessoa morreu a cada 3 horas e 47 minutos, sete por dia, em decorrência de acidentes de trabalho. Os dados são do Observatório de Segurança e Saúde no Trabalho, que reúne informações do Ministério Público do Trabalho, Organização Internacional do Trabalho e outros órgãos federais. Casos de transtornos mentais relacionados ao trabalho dobraram entre 2020 e 2022. Os números levam em conta apenas a população com vínculo de emprego regular.

Em 2020 foram registradas no país 1,1 mil notificações de transtornos mentais relacionados ao trabalho, como depressão e ansiedade. Passados dois anos, este número mais que dobrou, subindo para 2,4 mil casos (dados do Ministério da Saúde).

Esses transtornos geram perdas não apenas para os trabalhadores. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, estima-se que 12 bilhões de dias de trabalho são perdidos anualmente devido à depressão e à ansiedade, o que custa à economia global quase um trilhão de dólares.

Os números assustam. Principalmente porque neste contexto estão listados colegas, amigos, familiares e até mesmo você que lê essas informações.

Esses temas nortearam o XIV Seminário de Saúde do Trabalhador, realizado no dia 26 de abril no Teatro da Universidade de Caxias do Sul, reunindo profissionais de diversas áreas. O objetivo do encontro foi alertar a população e combater as doenças laborais, incentivando a adoção de práticas que garantam a saúde e o bem-estar no ambiente de trabalho.

Apresentação do coral Vozes do Sul abriu o seminário de saúde

Precarização, avanços tecnológicos e cultura organizacional como causa

Abrindo o ciclo de palestras, o médico especialista em Saúde Pública e Saúde do Trabalhador, René Mendes trouxe uma das principais reflexões do encontro, que é a necessidade de não se olhar apenas os sintomas psicossociais das doenças trabalhistas e lançar luz sobre as causas que levam ao adoecimento. “Estou preocupado com o trabalho, as condições de trabalho – físicas, químicas e psicológicas – que é onde estão os fatores do adoecimento dos trabalhadores”. Segundo ele, a precarização do trabalho e os avanços tecnológicos são algumas das causas, mas ela também está associada à cultura organizacional das empresas, onde o assédio, a competição predatória e urgente e a cultura da humilhação dão origem ao adoecimento individual e coletivo.

René Mendes, que já foi Professor da Unicamp, UFMG e Johns Hopkins University, defende que é preciso avançarmos sobre as causas do adoecimento físico e psíquico dos trabalhadores. Alerta, no entanto, que o tema esbarra na questão política e defende que é preciso uma mudança nas formas e relações de trabalho (Obs.: esta questão é prerrogativa do Congresso Nacional, onde foram aprovadas as reformas trabalhistas e previdenciárias, que provocaram grandes perdas à classe trabalhadora).

“Precisamos de respostas coletivas, respostas políticas para os transtornos mentais provocados pelo trabalho. Para isso, é necessário que fortaleçamos os movimentos sociais, os sindicatos de trabalhadores. Individual ou isoladamente, não há maneira de mudar. É necessário um movimento coletivo.”

Leia também a matéria do jornal Pioneiro sobre a palestra: Vivemos uma pandemia de adoecimento e sofrimento mental, dis médico em seminário em Caxias do Sul

 

Diretoria do Sindicato dos Bancários participou do evento

Sobre o Seminário

O XIV Seminário de Saúde do Trabalhador é uma realização do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador da Serra (Cerest/Serra), Central Única de Trabalhadores (CUT-RS), Central de Trabalhadores do Brasil (CTB), Universidade de Caxias do Sul (UCS) e Sindicato dos Metalúrgicos de Caxias do Sul e Região, com apoio do Sindicato dos Bancários de Caxias do Sul (integrante do Fórum de Entidades e Movimentos Sociais.

Memória às Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) definiu o 28 de abril como o Dia Internacional em Memória às Vítimas de Acidentes e Doenças do Trabalho.

A data foi escolhida por marcar a promulgação da primeira lei que representou avanços para a saúde e segurança no trabalho. Isso ocorreu em 28 de abril de 1919 em Ontário, Canadá, que, posteriormente, em 1991, se tornou o primeiro país a reconhecer e adotar esse dia como data nacional. Ele também é uma referência à memória de 78 trabalhadores mortos no “desastre de Farmington”, explosão de uma mina de carvão na Virgínia (EUA), em 20 de novembro de 1968.


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