O bancário Cauê Jarandilha, do Itaú-Unibanco, utilizou o Linkedin para publicar uma carta aberta ao banco, expondo todas as situações vividas pelos trabalhadores nas agências. A publicação teve mais de 3 mil curtidas e mais de 440 comentários, a maioria apoiando a coragem e endossando o ponto de vista. Muitos outros bancários, inclusive de outros bancos, relataram passar pelas mesmas situações.
Confira na integra:
CARTA ABERTA AO ITAÚ UNIBANCO
Ao Itaú Unibanco, Milton Maluhy Filho, Rodrigo Baia, Sergio Fajerman, Vitor Menezes, CEA, Sou colaborador da instituição, atuando em uma agência de varejo, e escrevo esta carta como forma de expor uma realidade que milhares de colegas enfrentam diariamente: uma cultura de sobrecarga, pressão desmedida e descaso com a saúde mental.
Minha trajetória foi marcada por acúmulo extremo de funções, jornadas exaustivas e ausência de condições mínimas de trabalho, o que comprometeu não apenas minha produtividade, mas minha saúde — a ponto de demandar afastamento médico, medicação psiquiátrica contínua e acompanhamento profissional psicológico.
Essa realidade não é um “caso isolado”. É resultado de escolhas institucionais, que priorizam metas inalcançáveis mesmo sob condições operacionais precárias.
1. Sobrecarga insustentável
Durante meses, atuei como único colaborador da agência no horário integral, acumulando todas as funções operacionais, comerciais e de liderança. Em diversos dias, fui impedido de realizar meu horário de almoço de forma adequada. A ausência de cobertura mínima se tornou regra, não exceção.
2. Negligência institucional frente a pedidos legítimos
Solicitei minha transferência para uma localidade com melhor acesso, devido ao desgaste físico e mental. Apresentei argumentos claros e não pedi nenhum tipo de vantagem, apenas o direito básico de preservar minha saúde. A resposta foi uma transferência surpresa ainda mais desgastante, sem diálogo, empatia ou consideração da parte dos gestores.
3. Pressão por metas e dilemas éticos
A cobrança por resultados muitas vezes ultrapassou os limites éticos aceitáveis. A orientação para atrelar produtos à força em operações de crédito e a vigilância constante sobre o volume de vendas colocam colaboradores entre a ética profissional e o medo da represália.
4. Adoecimento coletivo e silêncio organizacional
A quantidade de afastamentos por questões psiquiátricas nas agências deveria acender um alerta institucional. No entanto, a resposta predominante é o silêncio — ou pior, a substituição de quem adoece por mais alguém que logo enfrentará as mesmas condições.
5. Uma contradição institucional gritante
Enquanto a empresa investe fortemente em marketing e discurso público sobre “bem-estar”, “respeito às pessoas” e “valorização da diversidade”, a prática interna expõe contradições profundas entre o que se comunica e o que se vive.
Essa carta não é um ataque. É um apelo por coerência. Se o banco deseja realmente ser referência em responsabilidade social e boas práticas, precisa olhar com seriedade para dentro de casa. A saúde mental dos colaboradores precisa ser tratada com a mesma prioridade que o compliance e os indicadores financeiros. Não escrevo esta carta com raiva, mas com exaustão. E com a esperança de que uma instituição do porte do Itaú Unibanco tenha a coragem de fazer o que precisa ser feito.
Fonte: Bancários NH