No mês em que a toda a sociedade se une em torno da Campanha Outubro Rosa, uma ação de conscientização sobre a prevenção e o tratamento do câncer de mama, o governo de Jair Bolsonaro (PL) anuncia cortes de recursos para 2023 em áreas essenciais como a saúde que impactarão de forma severa os programas relacionados ao câncer, a segunda doença que mais mata no País.
Entre os vários cortes feitos para ‘garantir’ os R$ 19,4 bilhões do Orçamento Secreto para deputados e senadores gastarem como quiserem, sem controle nem transparência, estão os recursos destinados a tratamentos e combate ao câncer, que cairão de R$ 175 milhões para R$ 97 milhões – um corte de 45%.
Além de prejudicar a distribuição de medicamentos para o tratamento da doença, o corte afetará a manutenção e reforma de equipamentos, ambulatórios e centros de referência de alta complexidade em oncologia.
Até laboratórios, essenciais para o diagnóstico, e serviços de referência em tratamento do câncer de mama e do colo de útero sofrerão com os cortes.
Entre as mulheres, o câncer de mama é o que tem mais incidência no Brasil, com 30% dos casos. E, sem os recursos para o funcionamento do sistema público, afirma a presidente da Comissão Intersetorial Saúde da Mulher do Conselho Nacional de Saúde (CNS), Helena Piragibe, haverá dificuldades em se obter o diagnóstico e muitas mulheres vão morrer.
“Esse corte de recursos representa uma brutal violência à saúde da mulher. E significa que muitas vão morrer por falta de acesso à saúde pública”, salienta Helena Piragibe.
“É um presente que ele está dando pelo ódio que tem pelas mulheres, pelo machismo, pela sua misoginia. Ele [Bolsonaro], tem ranços históricos. Não gosta negros, de LBGT´s, de mulheres e isso temos que ter muito claro em nossa consciência”, diz.
Mais uma vez serão as mulheres as mais atacadas pela política da morte de Jair Bolsonaro, “uma política de desprezo à vida, em especial das mulheres mais pobres”, acrescenta a secretária de Saúde do Trabalhador da CUT, Madalena Margarida Silva.
São essas mulheres as que mais precisam desses recursos que mantêm o fornecimento dos medicamentos e materiais para o uso no tratamento no Sistema Único de Saúde (SUS). “Os cortes nas políticas de saúde da mulher e de combate ao câncer dificultarão ainda mais a oferta e acesso ao serviço em todas as regiões do país, sobretudo nas regiões mais distantes dos grandes centros, já que a grande parte dos mamógrafos, por exemplo, se encontra nas capitais e polos regionais”, complementa a dirigente, que ressalta: “O direito à vida é prioridade e deve ser garantido através de políticas públicas de saúde”.
Política de morte e ódio às mulheres
A finalidade do Outubro Rosa é justamente levar informação e conscientizar todas as mulheres para que o diagnóstico seja precoce, ou seja, para que tão logo se percebam os primeiros sinais, a mulher procure o tratamento. É nessa fase que ela pode ser curada, evitando a evolução do câncer de mama que pode levar à morte.
De acordo com a presidente do CNS, há uma demanda reprimida em atendimentos a casos de câncer de mama, ocasionada pela pandemia da Covid-19 (veja ao final desta matéria), o que pode, nos próximos anos, causar a mortalidade de muitas mulheres. E ao invés de mais investimentos, que é mínimo que o governo deveria fazer para salvar vidas, corta recursos da área.
“É uma tragédia humanitária, um genocídio”, aponta Helena Piragibe.
Outubro Rosa
A prevenção ao câncer de mama, tipo de câncer diagnosticado em mais de 66 mil mulheres no Brasil somente em 2022 é meta da campanha Outubro Rosa, que acontece no Brasil desde 2002, quando um grupo de mulheres ativistas pela causa, iluminaram o Obelisco do Ibirapuera, em São Paulo, para chamar a atenção da sociedade para o tema.
O movimento surgiu em 1997, nos Estados Unidos, quando vários estados se uniram para realizar ações relacionadas à doença.
No Brasil, a data é celebrada todos os anos, com o objetivo de compartilhar informações e promover a conscientização sobre a doença, além de proporcionar maior acesso aos serviços de diagnóstico e de tratamento e contribuir para a redução da mortalidade. O Instituto Nacional do Câncer (INCA), órgão subordinado ao Ministério da Saúde, participa do movimento promovendo eventos técnicos, debates e apresentações.
Com os cortes, fica comprometido todo esse trabalho de prevenção, que de 2003 a 2015, nos governos do PT recebeu mais de R$ 4,5 bilhões em investimento para prevenção do câncer de colo de útero e mama.
Fonte: CUT RS