No Rio Grande do Sul, vivemos o pior momento da pandemia. Os dados são alarmantes. Na última semana, a média de novos casos positivos para a Covid-19 cresceu 113% em relação à semana anterior. O estado contabilizava até ontem, 16 de março, 744.844 infectados e 15.105 mortes.
Não há como não refletir sobre como seria a atual situação caso o governo federal tivesse proposto uma política de gestão da pandemia desde o início. Negacionista e irresponsável, o governo Bolsonaro minimizou o problema, trocou quatro vezes o ministro da Saúde, empurrou a responsabilidade por todas as decisões para os estados e municípios, maquiou e escondeu dados da imprensa, fez propaganda de medicamento sem comprovação científica, investiu uma grande quantidade de dinheiro público neste medicamento, negou a eficácia da vacina, ofendeu as famílias enlutadas. Isso só para citar alguns exemplos.
Bancários e bancárias na linha de frente
Em meio a tudo isso, os bancários e as bancárias tiveram que assumir a responsabilidade de manter agências abertas. Com o pagamento do auxílio emergencial, a situação se agravou para os funcionários e clientes da Caixa, que enfrentaram filas e aglomerações.
Nos outros bancos, a situação também não foi fácil. Informações desencontradas, falta de direcionamento, gestores interpretando protocolos à própria maneira. Muitos bancários e bancárias acabaram se infectando e levando o vírus para seus familiares, alguns viraram vítimas fatais da Covid-19.
“Neste período em que marcamos um ano da pandemia no Brasil, temos que relembrar os obstáculos que tivemos. Foi algo novo, tivemos que nos movimentar, negociar, dialogar, nos mobilizar utilizando as ferramentas tecnológicas”, aponta o diretor de Comunicação da Fetrafi-RS, Juberlei Bacelo.
Regulamentação do home office
Diante do quadro nacional, a campanha salarial, que focava a renovação do Acordo Coletivo de Trabalho com aumento real e outras reivindicações, levou para a mesa um elemento crucial para salvar vidas: a regulamentação do home office. A revolução digital que vem sendo anunciada pelos bancos e que já tirou o emprego de muitos trabalhadores e trabalhadoras deu lugar à urgência de levar a digitalização para a casa dos(as) bancários(as).
Para Juberlei Bacelo, as conquistas do movimento sindical foram significativas. Em determinados momentos, cita, a categoria conseguiu que mais de 50% dos trabalhadores e trabalhadoras estivessem em home office. “Esse teletrabalho foi evoluindo para processos de negociações banco a banco e hoje já temos acordos celebrados prevendo a continuidade desta forma de trabalho depois da pandemia. Tivemos o papel de mediadores, para não permitir que os bancos se aproveitem disso para transferir todo o custo do trabalho para o bancário”, destaca o diretor da Fetrafi-RS.
As negociações avançaram ao longo da campanha até culminarem com acordos que contemplaram melhores condições de trabalho não só para quem era do grupo de risco ou que coabitava com alguém do grupo, mas para toda a categoria. “Desde a decretação de pandemia pela OMS (Organização Mundial da Saúde) há um ano, o movimento sindical bancário acionou os bancos, abrindo um processo de negociação para que medidas protetivas fossem adotadas. Tivemos avanços que preservaram a saúde e salvaram vidas”, relembra o secretário de Saúde da Contraf-CUT, Mauro Salles.
Além da implementação do teletrabalho, Salles salienta outras medidas conquistadas pelo movimento sindical, como a garantia do emprego, redução do horário de atendimento e fornecimento de equipamentos de proteção individual. “Lutamos por protocolos rígidos com afastamento imediato de bancários contaminados, suspeitos e mesmo os que tiveram contato com esses colegas”, reforça Salles.
Garantia de emprego
Em meio ao caos na saúde e à crise econômica agravada pela situação, os bancos queriam demitir e retirar direitos dos bancários e bancárias, garantidos na Convenção de Trabalho anterior. Na ocasião, ao sentar para negociar com os bancos, o Comando Nacional dos Bancários foi firme, conseguiu a promessa de que não haveria demissões, a manutenção da Participação nos Lucros e Resultados (PLR), além dos outros avanços.
“Conseguimos a garantia do emprego no início (da pandemia). Depois, os bancos romperam com o acordo. Mas foi muito importante naquele momento que a gente conseguisse através das reuniões virtuais, estabelecer esse processo de diálogo, que certamente resultou na proteção da vida de muitos bancários e bancárias por todo o Brasil”, conclui Juberlei Bacelo. “Conseguimos fechar um Acordo que dá pelo menos o mínimo de segurança à categoria por dois anos.”
Hoje, com um ano de pandemia, os bancos seguem a “onda” de todos os setores econômicos, segundo Bacelo, de defender o falso paradigma entre economia e a vida das pessoas. “Ao mesmo tempo que negociam conosco por medidas de proteção, fazem pressão à governadores e prefeitos para que não adotem medidas restritivas”, afirma.
Para Mauro Salles, esse paradigma é fruto de uma visão equivocada dos setores econômicos e governos de que a atividade econômica é prioridade. “Óbvio que o mais importante é a vida e a saúde, mas, mesmo em relação à economia, só será possível voltar à normalidade quando a proliferação do vírus for contida”, pontua.
Movimento sindical presente
Não foi e não está sendo fácil controlar as ações de prevenção à Covid-19 nos bancos. Os sindicatos fiscalizam constantemente, a Fetrafi-RS se reuniu com os bancos, enviou comunicados, fez cobranças.
No Rio Grande do Sul, o decreto da bandeira preta restringiu ainda mais o convívio social e foi preciso repactuar com os bancos as medidas que já vinham ocorrendo, como redução de funcionários. Essa repactuação, porém, teve que acontecer em vários momentos, ao longo de todo o ano de pandemia.
“Assim como ocorreu com o governo federal, tivemos muitas dificuldades ou inexistência de políticas centralizadoras por parte do governo do Rio Grande do Sul. Foi adotado o modelo de bandeiras e cogestão dos municípios, mas não existiram políticas sanitárias de distanciamento social, pagamento de auxílio emergencial e nem aquisição de vacinas”, explica a diretora de Saúde da Fetrafi-RS, Denise Falkenberg Correa, que compõe o Gabinete de Crise do Banrisul, instaurado para discutir protocolos sanitários durante a pandemia.
No Interior e na Capital foram inúmeras as denúncias de descumprimento das medidas estabelecidas para preservar a vida dos bancários. Em Cachoeira do Sul, o Sindicato dos Bancários precisou recorrer à Brigada Militar para exigir o distanciamento social e organizar as filas na Caixa Federal.
Na base de Pelotas foram diversas as agências fechadas neste período por casos comprovados de Covid-19 e o sindicato precisou intensificar a fiscalização e as postagens diárias de alerta em suas redes sociais. Muitas agências foram fechadas pelo mesmo motivo também na base de Ijuí, Santo Ângelo, São Borja, Santa Rosa, Rio Grande e Santa Cruz do Sul, entre outros municípios. Em alguns casos, foi preciso recorrer ao Ministério Público para cumprir com a determinação do fechamento.
Os sindicatos também emitiram Comunicações de Acidente de Trabalho (CATs) para os colegas que tiveram resultado positivo para Covid-19. No Vale do Paranhana, por exemplo, foram emitidas 23 CATs no período. O maior número de casos registrados foi no Banco do Brasil (8), seguido do Banrisul (7). Este último, porém, é o único banco, segundo relato do Sindicato, a fechar as portas para sanitização total em casos positivos e afastar os funcionários que cruzaram com a pessoa infectada até o resultado dos testes. Nos demais, o funcionário é afastado e os colegas fazem o teste, mas a agência permanece aberta.
Bancos descumprem protocolos
“Em muitas situações, os bancos não estão contribuindo com os governos estaduais que implementam medidas para conter a proliferação do vírus, entrando na onda do governo Bolsonaro que só pensa nos negócios, deixando a saúde em segundo plano. No pior momento revela-se essa lógica perversa”, afirma Mauro Salles.
Segundo o secretário de Saúde da Contraf-CUT, os bancos também não apresentam as medidas contra a Covid-19 de forma clara e demoram a apresentar soluções para os problemas que surgem no dia a dia. Um exemplo é a dificuldade em implementar o agendamento eletrônico e divulgá-lo à população. Em muitos casos, o cliente vai duas vezes à agência, uma para agendar o atendimento e outra para ser atendido.
“É necessário tratar a emergência com transparência para dar tranquilidade aos bancários. E muita divulgação junto aos clientes orientando de forma clara para que só se dirijam aos bancos quando estritamente necessário”, frisa Salles. “Neste momento é preciso parar com as metas, com as demissões, garantir o atendimento presencial de serviços estritamente essenciais, através de agendamento e deslocar para teletrabalho o máximo de bancários.”
Vacina já para todos e todas
A aceleração da vacinação contra a Covid-19 é, no momento, a bandeira do movimento sindical. O Comando Nacional dos Bancários já solicitou à Fenaban que busque a inclusão da categoria no Plano Nacional de Imunização, pelo fato do serviço bancário ser considerado essencial e, por isso, continuar funcionando mesmo no momento mais complicado da pandemia.
“Defendemos um consistente plano de vacinação que tenham critérios transparentes baseados em requisitos científicos, onde as prioridades sejam estipuladas dentro de critérios epidemiológicos. Nesse sentido lutamos para que os bancários, como categoria essencial e cujas características da atividade tem um potencial alto de transmissibilidade do vírus, sejam incluídos na fila de prioridades”, confirma Mauro Salles.
No Rio Grande do Sul, a bancada de oposição ao governo estadual garantiu, no final do ano passado, que a majoração das alíquotas do ICMS, que foi prorrogada, seja destinada à aquisição das vacinas. “Portanto, tem recursos e o governador precisa urgentemente adquirir os imunizastes”, destaca Denise Corrêa.
Um ano depois, a luta continua
Enquanto a vacina não chega para todos e todas, a conscientização da população e as medidas preventivas são as únicas saídas para controlar a proliferação do coronavírus. Além disso, o movimento sindical segue em negociação permanente com os bancos, principalmente neste momento em que, na contramão dos dados, as instituições financeiras buscam flexibilizar protocolos.
“Os bancos têm demonstrado, nas últimas negociações, um processo de enrolação. Neste grave momento que estamos vivendo agora, no auge (da pandemia), com uma nova cepa do vírus que se transmite mais facilmente, mais agressiva e mais letal, que tem levado à um colapso do sistema de saúde, temos tido dificuldade na mesa de negociação para que os bancos cumpram os decretos e medidas”, resume Juberlei Bacelo.
Por essa razão, o movimento social pressiona a Fenaban e mobiliza a categoria para a participação em campanhas nas redes sociais e denúncias contra a flexibilização de medidas preventivas. “A conscientização dos colegas sobre a gravidade da situação e necessidade de tomar todos os cuidados preconizados é vital”, completa Mauro Salles.
Fonte: Portal Bancários RS