Entidades representativas dos trabalhadores seguem reivindicando o cumprimento e mais medidas de proteção contra o coronavírus
Os empregados da Caixa ainda temem pela segurança e saúde no trabalho nas agências. Os novos protocolos do banco público previam o atendimento prioritário pelos canais digitais e apenas serviços considerados essenciais seriam atendidos na agência. No entanto, os relatos de agências lotadas, principalmente nesta terça-feira (31), seguem por todo o Brasil. A projeção é que o cenário ainda piore com os pagamentos dos auxílios emergenciais ainda a serem sancionados pelo governo. A falta de Equipamento de Proteção Individual (EPI) também tem sido uma corrida contra o tempo. As agências relatam dificuldades em encontrar o álcool em gel e as máscaras de proteção para quem faz atendimento junto ao público.
Em um dos protocolos emitidos pela Caixa, foi autorizado o home office para 70% dos empregados das agências, o restante ficaria em escala regime de escala semanal. Com poucos trabalhadores, o aumento de trabalho foi inevitável. Em Porto Alegre (RS), o dia foi de filas enormes para algumas agências. “O público não entende a necessidade do distanciamento, estamos trabalhando sem máscaras e o clima de trabalho está bem pesado. Todos têm família, filhos ou moram com os pais já de idade e a gente está muito exposto. A sensação é essa, estamos muito expostos. Nos últimos dias a gente nota o aumento de pessoas nas ruas e pessoas indo ao banco de novo. A sensação que temos é de relaxamento”, declarou uma bancária que não quis se identificar.
O mesmo sentimento é da bancária de São Paulo (SP). Os nomes dos empregados foram alterados para preservar as identidades. Trabalhadora de uma agência na periferia da cidade, Camila disse que muitas pessoas estão indo até a agência em busca do auxílio emergencial e destacou um problema maior: a falta do cartão cidadão. “A população só pergunta do voucher, tem gente que vem para a agência por causa disso. E a minha agência é muito cheia e agora ainda mais por causa desse voucher. Além disso, temos o problema do cartão cidadão que não está sendo emitido a tempos e é um problema seríssimo, principalmente na hora que liberar esse voucher. Porque as pessoas não têm o cartão cidadão. Está demorando mais de seis meses para ser emitido. Não adianta falar que via ser tudo no autoatendimento porque eles não têm com sacar”, contou. O governo ainda não definiu como será o cadastro e a operacionalização dos pagamentos do auxílio emergencial. O projeto ainda precisa ser sancionado pelo presidente Jair Bolsonaro, além de um decreto regulamentando a operação. Além disso, uma Medida Provisória, com vigência imediata, abrindo crédito extraordinário para os pagamentos também precisa ser publicada.
Camila foi afastada nesta terça-feira (31) do trabalho pois está gripada, como pede o protocolo da Caixa. Segundo ela, a agências está com pouco contingente. “De manhã ficava eu e o gerente do lado de fora, porque a fila vai até a entrada da estação de trem. Estávamos orientando a todos. As pessoas da periferia têm gente que não sabem nem mexer no autoatendimento. Eu não queria deixar a minha equipe. Eu me sinto exposta, meus colegas também. A gente chega em casa e até chora, mas o que podemos fazer?”, indagou.
A falta de EPI também foi relatada em uma agência de Recife (PE). O bancário Raul Campelo afirmou que o álcool gel está sendo fornecido, mas ainda faltam as máscaras. Na agência onde ele trabalha o fluxo interno está pequeno, devido a triagem na porta, mas do lado de fora a fila era grande. Campelo está fazendo o sistema de rodízio, mas revela que tem medo de voltar a trabalhar e infectar a família.
“Acredito que a Caixa se atrasou um pouco nas medidas de prevenção. Estamos em um momento de crise muito sério. Acho que a Caixa tem um papel importante sim, porque é um banco social. É o banco que está nessa linha de frente na luta contra essa epidemia. Mas você se colocar nessa linha de frente não é fazer de qualquer jeito. Temos que ter ações coordenadas, com comando e os EPIs necessários para trabalhar com a população”, afirmou.
Para aqueles que estão fazendo parte do rodízio, o medo de voltar ao trabalho é constante. Empregada de Brasília, Amanda* contou que a maioria das pessoas em sua agência estão no grupo de risco e por isso foram liberadas. “Atualmente só tem três pessoas na agência”. Com a mãe hipertensa, o receio da trabalhadora é passar o vírus para a família. “Tenho medo de voltar e trazer algo para dentro de casa. Mas estamos sem pessoal ainda fazendo o revezamento”, explicou. Ainda segundo Amanda, a corrida na agência pelo voucher de R$ 600 fez aumentar o fluxo na agência. “O problema é que não temos informações sobre isso. Então, as pessoas continuam indo até a agência. A Caixa não informa”, disse.
A falta de comunicação também é o problema ressaltado por Edson Tavares. Empregado da maior agência da Caixa de Boa Vista (RR), ele explicou que os EPIs estão chegando até os empregados, mas as informações, principalmente sobre os pagamentos, ainda estão desencontradas. “Sempre que há uma divulgação do governo federal causa do governo federal causa um fluxo maior nas agências. Faltou um pouco de uma propaganda massificada nesse sentido e também um pouco de conscientização da população neste momento. Mas acredito que o maior dificultador seja esse descompasso na comunicação”, afirmou.
As reivindicações continuam
As medidas adotadas pela Caixa até o momento aconteceram devido as intensas reivindicações das entidades representativas dos trabalhadores – Comando Nacional dos Bancários, Comissão Executiva de Empregados (CEE/ Caixa), Contraf-CUT, sindicatos e federações, como a Federação Nacional das Associações do Pessoal da Caixa Econômica Federal (Fenae). As entidades ainda estão cobrando a adequação da Caixa em diversas áreas para salvar vidas e a saúde dos empregados, terceirizados e da população.
A Fenae encaminhou uma carta ao presidente do banco solicitando a urgente intensificação das medidas de prevenção ao contágio pelo coronavírus. “A direção da Caixa precisa olhar para as demandas dos empregados. Os empregados estão com medo e manifestam a intenção de ficar em casa, conforme orientação dada pelo governo. Atender à população está na missão da Caixa. Isso precisa ser levado em conta. O importante, nesse caso, é reforçar ações de segurança para que os trabalhadores não sejam contaminados”, afirmou o presidente da Federação, Jair Pedro Ferreira.
Segundo o representante da CEE/Caixa, Leonardo Quadros, que esteve à frente da construção do protocolo, entre os bancos, as medidas da Caixa são as que mais têm garantia, mas ainda não é o ideal. “Uma das coisas que está faltando é com relação as metas. Não faz sentido hoje a Caixa cobrar metas dos empregados, uma vez que as agências só estão abertas para o atendimento essencial. Hoje, a maior reclamação é da lotação fora das agências. Boa parte dessa responsabilidade é da Caixa que não fez a campanha que ela se comprometeu a fazer”, afirmou.
Crédito: Fenae