“Eles sintetizam, no seu movimento, a defesa do emprego, do patrimônio público, da economia nacional, do Brasil como nação”, diz o socialista Emir Sader
Em todos os grandes avanços do neoliberalismo no mundo, houve uma queda de braço com setores representativos do movimento sindical, desde a ascensão de Ronald Reagan e Margareth Thatcher. No Brasil, foram os petroleiros que se lançaram na resistência à ofensiva neoliberal do governo FHC.
No Brasil de hoje, a greve dos petroleiros catalisa o poder de resistência dos brasileiros e coloca em questão o futuro do país. Ou o governo derrota a greve e se abre totalmente o caminho, livre de obstáculos, para a liquidação radical e definitiva do Estado e do patrimônio público. Ou a capacidade de luta dos petroleiros, apoiados em outros setores da sociedade brasileira, que se dão conta de como a luta decisiva em torno da Petrobras definirá o futuro do Brasil.
A luta dos petroleiros sintetiza todos os maiores temas em disputa hoje no Brasil. Eles se mobilizam, antes de tudo, contra a demissão de mil trabalhadores petroleiros no Paraná. É a luta pelo direito ao trabalho, mas também de resistência contra o desmonte da Petrobras.
Uma luta que chama a atenção a um dos tantos atos criminosos do governo e da direção da Petrobras, que de outra forma não teriam sido tão percebidos pelos brasileiros. É hora de que todos os trabalhadores ajam dessa forma diante desse tipo de ação contra os direitos dos trabalhadores e contra o patrimônio público brasileiro.
Ao mesmo tempo, a greve dos petroleiros é o movimento mais firme contra a privatização da maior empresa brasileira. Em torno da Petrobras se centra grande parte da luta política hoje no Brasil. O falso argumento de que os problemas do país se originam no déficit público – supostamente produzido pelo PT -, servem para justificar os cortes sistemáticos dos recursos orçamentários, a começar pelos destinados a políticas sociais, mas também nos cortes de recursos para o pagamento dos servidores públicos, nos congelamentos de concursos públicos, no achamento salarial dos servidores.
A luta dos petroleiros sintetiza todos os maiores temas em disputa hoje no Brasil
Crédito foto: FUP / Federação Única dos Petroleiros
Esse argumento serve também para justificar a liquidação de setores estratégicos da Petrobras, a preço de banana, como forma de desmonte da empresa mais importante para a economia brasileira. O sucesso da Petrobras era um argumento definitivo contra o argumento da direita da incapacidade do setor públicos de gerar empresas. Seu sucesso sempre incomodou à direita no Brasil e fora do Brasil. Daí que a operação de perseguição política no Brasil, levada a cabo por setores do Judiciário, tenha se concentrado sobre a Petrobras, para tentar fazer da empresa um símbolo da corrupção no país.
Desde sua origem, a Petrobras foi um símbolo da pujança nacional, desmentindo todos os argumentos da direita e dos EUA, desde o que de que não haveria petróleo no Brasil, até a de que o Pré-sal não seria rentável. A Petrobras, como empresa nacional, seus técnicos e trabalhadores, desmentiram essas falácias, que eram manipuladas para inviabilizar o Brasil como país, a economia brasileira e o Estado nacional.
Nesta greve os petroleiros sintetizam, no seu movimento, a defesa do emprego, do patrimônio público, da economia nacional, do Brasil como projeto e como nação. Os petroleiros estão firmes na luta, apesar da atuação odiosa do Judiciário, que age em função dos interesses estrangeiros, que buscam quebrar a capacidade de luta dos trabalhadores. Os petroleiros merecem e recebem apoios cada vez mais amplos dos brasileiros.
No final da ditadura, foi a greve dos metalúrgicos do ABC que sintetizou a capacidade de resistência do povo brasileiro. Ao quebrar a política de arrocho salarial, os trabalhadores quebraram o nervo fundamental da ditadura militar e aceleram seu final.
Neste momento é a greve dos metalúrgicos que assume esse papel. Sua vitória representará dobrar a resistência da equipe econômica do Guedes e dos bancos privados, do governo e dos meios de comunicação a seu serviço. A vitória da greve dos petroleiros abrirá o caminho para o fim do regime de exceção que impera no Brasil e apontará para a retomada da democracia. A greve dos petroleiros mostra como só a luta firme dos trabalhadores pode derrotar esse governo e seu modelo neoliberal.
*Emir Sader é sociólogo.
Fonte: Brasil 247