Não resta a menor dúvida que o lucro líquido recorde na história do Banrisul, conquistado com o trabalho de qualidade dos funcionários do banco, é uma notícia muito boa. Pois, além de mostrar que o Banrisul tem saúde financeira como banco público no ano de seus 90 anos, e que pode ajudar o Rio Grande do Sul a crescer e sair de crises, tem um impacto muito bom sobre a segunda parcela da PLR dos Banrisulenses a ser paga até 1º de março. Porém, esse bom resultado pode estar sendo turbinado para ser usado pelo governo Sartori e pela diretoria do banco como argumento para a venda ações com o objetivo de entregar o Banrisul para o mercado. O lucro líquido de 2017 foi de R$ 1,053 bilhões, 59,6% superior ao resultado obtido em 2016, que foi de R$ 659,7 milhões. Mas também houve uma redução histórica de 13,4% nas para Provisão de Débitos Duvidosos (PDD), aquele dinheiro que o banco tira do lucro para garantir que dívidas de pessoas físicas não darão prejuízo).
Já demonstramos vários vezes que vender as ações do Banrisul e manter o banco apenas 26,5% público é uma espécie de privatização. O governo Sartori tentou de todos os jeitos entregar essas ações desde agosto do ano passado. Desistiu em dezembro, porque as ações não chegaram, na média, a atingir o valor patrimonial, de R$ 17,20, chegando a R$ 14,87. Mas isso não significa que o Banrisul esteja livre de ter ações vendidas e ter a sua privatização disfarçada realizada pelo governo do Estado e a direção do Banrisul. Afinal, as ações tiveram um salto grande em seus valores médios de 2016 para 2017. Passaram de R$ 9,12 para R$ 14,87, um salto de 62,3%. Para atingir o valor patrimonial, de 17,20, o preço médio de todos os tipos de ações do Banrsiul precisa crescer 14,8%.
Para o secretário-geral do SindBancários e funcionário do Banrisul, Luciano Fetzner, é preciso comemorar sim o resultado histórico do lucro líquido do Banrisul, mas o contexto de venda do patrimônio público para que o Estado ingresse no Regime de Recuperação Fiscal liga um sinal de alerta. “A segunda parcela da nossa PLR será muito boa. E isso é motivo de comemoração, porque o resultado está diretamente ligado ao investimento que nós, trabalhadores, fizemos no Banrisul. Além disso, vai render bastante dividendos para o Estado, um dividendo recorde também. O que não renderia se o banco fosse privatizado ou tivesse ações vendidas. De qualquer modo, precisamos também levar em consideração o número de funcionários que deixaram o banco e as agências que foram fechadas. Será que o resultado do ano que vem será o mesmo?”, questiona Luciano.
Faz muito sentido os questionamentos estruturais do secretário-geral do Sindicato. Afinal, o número de funcionários do Banrisul, em 2017, também caiu históricos 6,2%. Quer dizer, se, em 2016, o ano do Banrisul se encerrou com 11.214 funcionários, o ano de 2017 chegou a dezembro com 10.516, o que representa 698 colegas a menos. Essas demissões foram fruto da política de desmonte do banco, que lançou Plano de Demissão Voluntária e fechou agências. Se, em 2017, o ano chegou ao fim com 536 agências bancários do Banrisul em todo o país, esse número se reduziu para 526, 10 a menos.
A repercussão da política de desmonte pôde ser vista também no volume de Postos de Atendimentos (PAB) fechados. São nove a menos os PABs do Banrisul em todo o Brasil na comparação entre 2016 e 2017. A política do governo Sartori executada pela atual diretoria do Banrisul deixou o Banrisul com 191 PABs em 2017 contra os 200 de 2016. “Não resta dúvida que houve uma política de desmonte do banco para vendê-lo e conseguir dinheiro para o governador realizar alguma obra de repercussão em seu governo. Isso é importante para quem quer ser reeleito. O Sindicato vai continuar alertando os banrisulenses sobre os perigos da privatização. O desmonte e o valor atualizado das ações do Banrisul são indicadores deste risco”, alerta Luciano.
Devedores duvidosos e lucro inflado. É o novo truque do banqueiro?
Em 2012, nossa Campanha Salarial alertava para um truque que os banqueiros de todo o país estavam usando para meter a mão na nossa PLR. Demonstramos na época que os banqueiros aumentavam a Provisão para Devedores Duvidosos (PDD) para retirar valores do lucro líquido e reduzir nossa PLR. A cada ano esse valor que o banco segura para garantir que vai ter dinheiro e não terá prejuízo para a inadimplência aumentava muito.
No Banrisul, em 2017, ocorreu justamente o contrário. É fato que a inadimplência de pessoa física caiu 1,44 ponto percentual, ficando em 3,56% em relação aos 3,68% de 2016, dando margem para reduções. Mesmo assim, o PDD de Pessoa Física teve uma redução histórica também. Ele caiu 13,4%. Em 2016, o Banrisul havia retido R$ 1,67 bilhões ante R$ 1,44 bilhão em 2017. Para se ter uma ideia em termos de comparação, o PDD do Banrisul chegou a subir 97,8% de 2014 para 2015, passando de R$ 784,2 milhões para 1,55 bilhão. O Banrisul reteve R$ 223,2 milhões para o PDD em 2017. Se tivesse retido o mesmo valor de 2016, o lucro seria de R$ cerca de 829 milhões, quase 20 milhões menor do que o lucro de 2015 (R$ 848 milhões).
Quando se compara a variação do lucro de 2015 para 2016, queda de 22,3% no lucro (respectivamente R$ 848 milhões e R$ 659,7 milhões), com a Provisão para Devedores Duvidosos (PDD), observa-se um crescimento de 7,5%. “Parece não haver dúvidas de que há um motivo para a redução da PDD. Talvez haja uma necessidade financeira, mas parece que podemos dizer que o lucro líquido foi turbinado pela redução da PDD. Esperamos que esse mecanismo não tenha sido usado para aumentar o valor das ações do banco e facilitar a venda”, avalia o secretário-geral do SindBancários, Luciano Fetzner.
A venda de ações suspensa “por enquanto”
Está tudo bem com o Banrisul, o que mostra que ele é eficiente e rentável sendo públicos e não precisa ser privatizado ou de “gente do mercado” para montar suas estratégias. Os ativos totais do Banrisul alcançaram saldo de R$ 73,3 bilhões em dezembro de 2017, uma expansão de 6,2% na comparação com o ano anterior.
A direção do banco anunciou nesta segunda-feira, durante a divulgação dos resultados de 2017, que a operação da venda das ações continua suspensa, “por enquanto”, e nos próximos dias uma decisão deve ser tomada sobre o assunto. “A venda vai depender do valor das ações no mercado, da renegociação da dívida do Rio Grande do Sul com a União e toda a fase da Recuperação Fiscal do Estado, mas ainda não há uma definição”, confessou o presidente do Banrisul, Luiz Gonzaga. O presidente do Banrisul, entretanto, disse que a hipótese de o banco ser incluído no pacote de concessões para a adesão do Estado ao Regime de Recuperação Fiscal, estaria descartada.
O governador José Ivo Sartori participou do evento e destacou o bom desempenho recorde. “Sem dúvida nenhuma uma marca histórica que reafirma a constante busca do Banrisul para ser um banco moderno, sustentável e eficiente”, comemorou Sartori. Ao final do evento, o governador lançou uma placa comemorando o lucro líquido recorde da instituição no ano de 2017.
Fonte: Imprensa SindBancários, com informações do jornal Correio do Povo