Foram exatamente duas semanas entre a tentativa de prisão do Lula, no dia 4, e a manifestação da Avenida Paulista, no dia 18 de março. Duas semanas marcantes, intensas, com material rico para entender as forças em choque no Brasil de hoje. Duas semanas das quais ninguém saiu do mesmo jeito que entrou, saiu mais forte ou mais fraco.
Moro tentou usar seu poder discricionário para prender o Lula, levá-lo de Congonhas a Curitiba, calá-lo e linchá-lo na mídia, para em seguida condená-lo e tirá-lo da vida política. Não deu. A versão mais plausível de por que a operação pronta – com avião no pátio, comemorações na chegada em Curitiba – fracassou é a de que juiz do STF ligou pro Moro e o fez parar a operação. Senão não haveria como justificar que ele detivesse a operação, que ele julgava que o levaria à consagração diante da direita brasileira.
Naquele dia o Lula amanheceu detido e terminou o dia com 10 minutos no Jornal Nacional. Porque ao longo do dia, assim que saiu de Congonhas, Lula recuperou seu instrumento decisivo – a fala. Por três vezes ao longo de poucas horas, Lula falou, deu sua versão do que havia acontecido, situou os fatos no marco da disputa política nacional, se reafirmou como candidato. Ele reapareceu assim, pelas próprias grandes redes nacionais de TV, que nunca lhe dão a palavra, para o conjunto do povo.
Ali a situação nacional começou a virar a seu favor. Sua presença reforçou a ideia de que é o único líder político nacional a resistir à crise de legitimidade das lideranças políticas e voltou a projetar no imaginário dos brasileiros sua imagem e seu discurso.
Nessas duas semanas houve ainda outra tentativa – tão ou mais desastrada que a primeira – de prender o Lula, houve a intensificação da campanha de calunias contra ele, e as duas manifestações, a do dia 13 e a do dia 18. Dois cenários de dois pedaços completamente dissimiles do país: numa, classe média, especialmente classe média alta e burguesia, gente branca e rica, com ódio, intolerância, violência e discriminação, contando com todo o poder de convocação da mídia privada e com sua cobertura para lhe dar mais eco.
Uma manifestação que teve não no governo, no PT ou no Lula, suas vítimas privilegiadas, mas nos pré-candidatos tucanos, Alckmin e Aécio, enxotados da manifestação que se supunha seria de adeptos dos tucanos. Ali, o PSDB terminou como partido político mais importante da oposição de direita, desde 2003.
Na outra manifestação, surpreendente para a direita, que não esperava presença tao massiva em todo o país, a composição era totalmente diferente: o povo se fez presente de forma marcante, a presença dos negros e dos jovens chamou muito a atenção. Enfim, uma fotografia muito mais real do Brasil realmente existente. Apesar do boicote da mídia, não puderam não demonstrar sua surpresa e pânico diante daquela multidão de camisas vermelhas.
A cena do Lula aclamado e falando para aquelas centenas de milhares de pessoas na Avenida Paulista exibia o caminho de superação da crise: povo na rua, discurso do Lula e sua ação no governo para a saída da crise. Gerou pânico na direita. Só lhe restou o apelo ao Eduardo Cunha para tentar o impeachment no Congresso e outra ação arbitrária do Gilmar que, em vez de declarar suspeição, age de forma escandalosamente político-partidária e, logo depois de almoçar com o Armínio Fraga e com o Serra, tenta barrar a ida do Lula ao governo.
Ninguém saiu igual dessas duas intensas semanas. Os tucanos foram as maiores vítimas – porque se incluiu ainda a desastrosa consulta interna para candidatura a prefeito de São Paulo. Moro se enfraqueceu, ficou claro que não pode tudo. Lula se fortaleceu e, conseguindo assumir o ministério no governo, será a via-chave para a saída positiva da prolongada e profunda crise atual no Brasil.
Fonte: RBA