A UNI Finanças, braço da UNI- Sindicato Global que representa três milhões de trabalhadores no setor financeiro no mundo todo, divulgou a pesquisa "Setor Bancário: Uma Crise Humana"(Banking: A Human Crisis), com trabalhadores do setor financeiro, de 26 países. A pesqusa teve por objetivos levantar efeitos da perda de empregos e as condições de trabalho dos bancários desde 2011.

O estresse foi um fator-chave , com os trabalhadores relatando metas de vendas impossíveis de serem cumpridas , salários mais baixos, e a obrigação de dar conta do mesmo volume de trabalho com menos funcionários.

A ansiedade, relacionadas ao cortes de empregos também foi um fator relevante, em parte devido a uma tendência de substituição de trabalhadores mais velhos por mais jovens e com salários menores, muitas vezes com contratos temporários.

De acordo com a pesquisa, o medo do desemprego, a pressão excessiva e os abusos psicológicos são apenas algumas das causas de uma crise de saúde pessoal que afeta globalmente o setor bancário.

A pesquisa acontece depois de uma séries de tragédias recentes no setor financeiro , incluindo as mortes amplamente divulgadas na Europa, de funcionários de bancos do Reino Unido e Suíça.

Marcio Monzane , chefe da UNI Finanças, disse que "Esta é uma crise que afetou a todos nós de muitas maneiras . Enquanto estamos corretamente denunciando os banqueiros por sua responsabilidade na crise financeira mundial, há milhões de trabalhadores dedicados e honestos no setor de finanças , cujas vidas foram arruinadas por uma onda interminável de mudanças que afeta o setor".

"Centenas de milhares de postos de trabalho já foram perdidos. A pressão sobre os empregados para que o trabalho seja feito, mesmo com menos trabalhadores, é imensa , e isso está se refletindo na deterioração da saúde e do estilo de vida dos bancários em todo o mundo ", afirmou Marcio Monzane.

Metade dos sindicatos pesquisados disse que seus membros se queixaram que suas vidas pessoais estão sob pressão considerável. O IBOA, sindicato irlandês, informou que os trabalhadores estavam se deparando com "metas irreais em todos os níveis, sem levar em conta o contexto financeiro adverso".

Um relatório recente do Statec , o instituto nacional de estatística de Luxemburgo , apontou que o assédio moral é mais elevado no setor bancário, atingindo 12% dos empregados.

A perda de empregos está crescendo em sete países europeus, incluindo a França, Holanda e Grécia , bem como na Ásia , nas Américas e na África, diz o relatório. Se por outro lado, a redução de empregos está desacelerando em nove outros países europeus como a Irlanda, Espanha e Reino Unido, essa redução se dá a partir de um nível muito alto.

O relatório identifica as sete principais tendências que estão ocorrendo no setor, que são responsáveis pela pressão excessiva sobre os trabalhadores:

> reestruturação generalizada continua a ocorrer na esteira da crise financeira

> os trabalhadores do setor financeiro estão sob forte pressão para vender produtos financeiros

> a perda de empregos está atingindo principalmente a linha de frente, a retaguarada (back office) , e trabalhadores de TI

> os empregos tem sido deslocados para outros países e terceirizados, levando-se em conta padrões regionais

> campanhas sindicais compensam a ausência de acordos colectivos fora da Europa

> muitos trabalhadores do setor de finanças apontam a deterioração da saúde

> a reestruturação tem tido um impacto negativo que afeta o risco do negócio e a produtividade.

Um trabalhador de call center de um banco internacional no Brasil disse: "Atingir a meta não é suficiente. Supervisores enviam e-mails dando os nomes daqueles que fracassaram. Eu temo que vai ter um ataque cardíaco em breve".

Um funcionário de um banco espanhol disse: "Em geral , os clientes começam a brigar com os funcionários do banco em função de suas hipotecas ou dívidas. Não há segurança suficiente para os funcionários. Infelizmente , os clientes que se sentem abusados financeiramente estão se voltando contra os funcionários de linha de frente , ao invés de protestar junto aos proprietários do bancos ".

A UNI Sindicato Global defende uma abordagem mais justa para a reestruturação, limitando a distribuição de dividendos a acionistas e fazendo o máximo para preservar os empregos . Os acordos coletivos entre sindicatos globais e bancos multinacionais (acordos marco), dizem os sindicatos, são uma boa maneira de garantir que os trabalhadores sejam tratados e pagos de forma justa. Elevar os padrões dos países que recebem empregos terceirizados por meio de acordos globais é uma prioridade.

Fonte: Contraf-CUT e UNI-Finanças e UNI-Sindicato Global


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