Os salários médios reais (descontada a inflação) em todo o mundo cresceram menos em 2011, segundo relatório da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que mostra ainda avanço menor da remuneração dada aos trabalhadores em relação à produtividade.
Segundo o organismo, os trabalhadores estão se beneficiando menos dos frutos do trabalho, enquanto os proprietários dos capitais se beneficiam mais. Essa é uma “tendência indesejada”, afirma o diretor-geral da OIT, Guy Ryder. “Em nível social e político, sua interpretação mais clara é que os trabalhadores e suas famílias não estão recebendo o que merecem.” A queda da participação do trabalho na renda nacional provoca "descontentamento popular" e aumenta o "risco de mal-estar social".
O estudo da OIT detecta também “diferenças consideráveis” nos níveis salariais entre os países. No setor manufatureiro, um trabalhador ganha US$ 1,40 dólar por hora, ante menos US$ 5,50 no Brasil, US$ 13 na Grécia, US$ 23 nos Estados Unidos e quase US$ 35 na Dinamarca.
O ritmo de crescimento dos salários segue inferior ao período anterior à crise internacional. E mostra comportamentos diferentes: a renda cai nas economias desenvolvidas e cresce mais nos países emergentes. Segundo o documento, o salário médio cresceu 1,2% no ano passado, ante 2,1% em 2010. Em 2007, antes da crise, a expansão foi de 3%. No Brasil, a expansão foi de 2,7%, mais de duas vezes a média mundial.
“O informe mostra com clareza que a crise teve forte impacto sobre os salários e, por extensão, sobre os trabalhadores. Mas o impacto não foi uniforme”, comentou Ryder. Por seu porte, a China tem grande peso no cálculo da OIT. Excluído o país asiático, o crescimento dos salários em 2011 passa de 1,2% para uma quase estabilidade (0,2%). De acordo com o relatório, nas principais economias os salários tiveram variação de -0,5% em 2011, após pequenas elevações (0,8% em 2009 e 0,6% em 2010) nos dois anos anteriores. Na América Latina e no Caribe, a expansão foi de 2,2%, melhor resultado desde 2007 (2,9%).
O organismo informa que recomendou aos 185 Estados-membros a adotar políticas de salario mínimo “como um meio de reduzir a pobreza laboral e oferecer proteção social aos trabalhadores vulneráveis”. No relatório, a entidade afirma que em vários países desenvolvidos o salário mínimo foi uma ferramenta de proteção. “Os salários mínimos ajudam a proteger os trabalhadores com salários baixos e previnem uma diminuição de seu poder aquisitivo, a qual, por sua vez, prejudica a demanda interna e a recuperação econômica”, diz o diretor-geral. “Um salário decente é uma das maneiras mais simples e diretas de prevenir um aumento da pobreza entre os trabalhadores.”
Muitas economias emergentes utilizaram o salário mínimo como uma forma de proteger os setores mais vulneráveis, acrescenta a OIT. "O Brasil, por exemplo, aumentou consideravelmente seu salário mínimo. Começou em 2005 e continuou a fazê-lo ainda durante os piores meses de crise."
Fonte: Rede Brasil Atual.