A liberdade que o sistema financeiro tem para estipular taxas de juros, de spreads e de realizar especulações financeiras de alto risco, é inversamente proporcional à responsabilidade que assume quando realiza operações mal-sucedidas e os governos são obrigados a injetar recursos para evitar a quebradeira. É inadmissível termos uma das taxas de juros mais altas do mundo, apesar da inflação controlada e do nível de endividamento ser, em média, igual ao dos países desenvolvidos. Os bancos precisam cumprir seu papel social, investindo no desenvolvimento do Brasil.

A regulamentação do sistema financeiro não é uma questão de ideologia. E a crise de 2008, quando vários países estatizaram bancos, enterrou a tese neoliberal de que o mercado se autorregula. Mas, errou quem apostou que esta crise abalaria o poderio dos banqueiros. Vários ex-funcionários do banco norte-americano Goldman Sachs, por exemplo, assumiram o comando do BCE (Banco Central Europeu), dos governos da Grécia e Itália, além de cargos importantes na Espanha, França e Hungria. E mesmo com a crise no setor, os altos executivos continuaram recebendo bônus milionários.

Este cenário demonstra a urgência de um amplo debate na sociedade sobre o papel dos bancos, reivindicação que os bancários veem fazendo já há algum tempo. A Conferência Nacional dos Bancários aprovou a realização de uma conferência do sistema financeiro, com a participação do governo, dos representantes dos bancos e de toda a sociedade justamente para discutir o papel que os bancos devem desempenhar no desenvolvimento econômico e social do país.

A campanha nacional de 2012 dos bancários tem de ser um marco nesta luta sobre o papel dos bancos, sobre a necessidade do Estado regular o sistema. O momento é propício. Pela primeira vez um presidente da República questionou publicamente o papel dos bancos. A presidenta Dilma Rousseff, decidida a não entregar o destino do país nas mãos do sistema financeiro, determinou que os bancos públicos baixassem os juros, ampliando, assim, a concorrência e forçando os bancos privados a tomar a mesma medida.

A primeira reação dos bancos privados foi agressiva. Tentaram, por vias indiretas, demonizar a queda dos juros, alegando que ela não reflete a economia real, que o governo quer cortar os juros “a qualquer custo” etc. Já os gestores dos bancos públicos, que fizeram muita propaganda alardeando a queda nas suas taxas, estão atrelando os juros mais baixos a metas de venda de pacotes de tarifas, o que não podemos admitir. Temos de denunciar, cobrar, exigir o cumprimento da determinação da presidenta.

E a nossa campanha salarial vai contribuir para isso. Vamos explicar para a sociedade que o juro real baixo, próximo ao patamar internacional é fundamental para o desenvolvimento do país, para que o país não sangre suas economias em prol dos rentistas e dos especuladores. A classe trabalhadora tem o direito de manter seu emprego e sua renda.

Se tem um fator que torna as empresas brasileiras pouco competitivas tanto aqui quanto lá fora é o custo do capital, e não o custo do trabalho. Como pode a empresa brasileira competir com as japonesas que tomam dinheiro a juros negativos? Hoje, os grandes empresários pegam dinheiro a preço de mercado lá fora ou no BNDES. Os sacrificados com os juros altos são os pequenos, os médios e os microempresários, muitas vezes por falta de informação, ou por não ter garantias. Como pode o governo brasileiro investir em infraestrutura para diminuir o “custo Brasil”, se paga juros exorbitantes à banca, que funciona como o fermento que alimenta a dívida e obriga a sociedade a conviver com a mão dura do superávit primário?

A queda dos juros beneficia a todos. Cada corte gera economia de bilhões de reais. Ganham as empresas e o próprio governo, que passa a financiar sua dívida (a nossa dívida!) a um custo mais baixo. Ganham também e, principalmente, os trabalhadores que podem financiar o crescimento do seu consumo e principalmente do seu patrimônio a juros mais baixos.

Esperamos que a queda dos juros chegue ao cartão de crédito, ao cheque especial, aos financiamentos. É inacreditável que um povo que paga tão em dia quanto seus semelhantes do primeiro mundo seja extorquido por juros exorbitantes. Se o brasileiro tem dificuldade para pagar suas dívidas é porque estas dívidas são corrigidas por juros altíssimos que são simplesmente impensáveis em países “de primeiro mundo”.

A queda perene dos juros será uma das maiores conquistas dos brasileiros, depois da democratização e do controle da inflação, e contribuirá de forma decisiva para o aumento do emprego e da riqueza do país. Nosso sistema financeiro, um dos mais sólidos e mais eficientes do mundo, tem de ser também um dos mais justos. Os bancos precisam colaborar para o desenvolvimento econômico com justiça social e distribuição de renda.

Autor: Vagner Freitas, bancário e presidente da CUT. Publicado originalmente em Rede Brasil Atual.

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