O filme, uma co-produção Brasil/Chile/Venezuela, apresenta a sofrida realidade de ministros e integrantes do governo Allende presos durante a ditadura de Pinochet e confinados a um campo de concentração na Ilha Dawson, no extremo sul do Chile.

 

“Dawson Ilha 10 – A verdade sobre a ilha de Pinochet” estreia nesta sexta-feira em São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador. O filme, uma co-produção Brasil/Chile/Venezuela, apresenta a sofrida realidade de ministros e integrantes do governo Allende presos durante a ditadura de Pinochet e confinados a um campo de concentração na Ilha Dawson, no extremo sul do Chile. A produção é uma adaptação do livro “Isla 10” de Sérgio Bittar, ministro de Minas do governo de Allende, que escreveu sobre sua experiência na gelada Ilha Dawson e as terríveis condições de vida a que os prisioneiros eram submetidos.

Em 1973, o general Pinochet lidera o golpe de estado que depõe o governo de Salvador Allende no Chile. Os ministros e autoridades depostas tornam-se presos políticos dos militares e são levados para a gelada ilha Dawson, no extremo sul do país, utilizada como campo de concentração da ditadura chilena. Os presos políticos foram submetidos a violentos interrogatórios, trabalhos forçados, constantes torturas físicas e psicológicas.

Esse episódio é o tema central do filme Dawson Ilha 10, que será lançado nesta sexta-feira (25) em quatro capitais brasileiras – São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Salvador. O filme é uma co-produção Brasil/Chile/Venezuela, dirigida por Miguel Littin.

A produção cinematográfica é uma adaptação do livro-depoimento Isla 10 de Sérgio Bittar, Ministro de Minas do governo de Allende, que escreveu sobre sua experiência na gelada Ilha Dawson e as terríveis condições de vida a que os prisioneiros eram submetidos.

O filme foi indicado pelo Chile para representar o país no Oscar de 2010, foi um dos concorrentes ao prêmio Goya e participou da seleção oficial do Festival de Roma.

O cineasta e produtor José Walter Lima, assina a co-produção de Dawson Ilha 10. Para completar a presença brasileira na ficha técnica do filme, dois atores baianos são destaque no elenco: Bertrand Duarte e Caco Monteiro. Bertrand é um dos protagonistas do filme. Na pele de M. Lawner, interpreta um arquiteto que foi diretor da Corporação de Melhoramento Urbano do governo Allende. Caco Monteiro assume o papel de Fernando Flores, engenheiro e Ministro das Finanças do mesmo governo.

O diretor Miguel Littín possui uma vasta e importante cinematografia e suas produções sempre seguiram na linha do cinema político – humanista. Foi indicado duas vezes ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro e à Palma de Ouro em Cannes.

Notas do diretor

Littín diz o seguinte sobre seu mais recente filme:

A presença visual de três níveis de realidade é uma parte fundamental da narrativa de Dawson Ilha 10. Passado, presente e futuro fazem parte de uma mesma verdade: dignidade. Isso aparece através da presença humana no primeiro nível da história. A verdade se torna evidente através de uma fotografia que olha para o ser humano com uma aproximação lúcida. Realismo, mas não naturalismo. Busca e recriação, não é imitação sem expressividade. Se história conta o heroísmo diário daqueles que resistiram e derrotaram a pressão, a abordagem visual deve ser rigorosa e de acordo com a natureza do relato. Documentário e ficção dividem a tela.

A natureza pode ser mãe e madrasta. A doce pátria é dura. Portanto, esse é um filme duro e lúcido, como aqueles homens que relataram o  testemunho de suas vidas. Presos na pele dos personagens, mais que uma fotografia, nós procuramos pela ontologia. O movimento de sentimentos, em tempos antagônicos e forças que colidem, quebrando o tempo e o espaço. A mistura de documentário e a recriação de eventos retratados pelos atores viajam através do tempo e de texturas, mantendo as cores de um tempo em que houve união e um forte sentimento de dignidade.

É exatamente neste âmbito que a essência da identidade cinematográfica de Dawson Ilha 10 pode ser encontrada. Close-ups, o olhar para aqueles que sofrem, a serenidade do ser humano, carregando pesados fardos. Preto e branco, cor, a câmera em movimento não só como janela, mas como um olho que examina e ilumina o comportamento humano. A lente do zoom e a grande angular são instrumentos a serviço do ser humano e sua história.

Como a memória é organizada? 

A memória não é restaurada, ela pode ser despertada. Por que ela está deitada no subconsciente coletivo e está lá, esperando para ser tocada como um instrumento musical. Neste caso, é um coral composto de instrumentos e vozes. Misturado com o som do vento, do mar, com o silêncio, o distante latido dos cachorros, os dolorosos gritos de pesadelos vividos pelos prisioneiros e a freqüência do rádio que vêm de outros mundos. Homens e natureza. Passado e um possível futuro expressos em sonhos, cartas, desenhos, escritos em pedras (talvez lembrando a frase de Neruda: “Em cada pedra, eu deixei um telegrama escrito”), que refletem o presente. Este presente agradece à paciência e à resistência persistente e pacífica à violência.

Quantos Chiles existem na Ilha? 

Opressores e oprimidos aprisionados em um lugar perdido da Terra, no fim do mundo, precisam viver juntos. Não há brancos nem negros. Diferentes perspectivas, diferentes pontos de vista. A realidade que estão vivendo é cruel e desumana. Pode dar luz ou torná-los cegos. Este é o desafio.

(Fonte: Agência Carta Maior)

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